De nada pelo caos

Trilha sonora.

Acendi um cigarro e coloquei Angus and Julia Stone para tocar. Eu não queria falar sobre você. Eu não queria falar para você. Eu não queria confrontos diretos com esses resquícios de nós que ainda alfineta o peito.

Até que ponto podemos nos sentir sozinhos? Outro dia, recebi um e-mail onde um amigo diz que quase todos meus textos soam como um grito desesperado de socorro. Talvez sejam. Talvez eu sempre cantarole músicas tristes, enquanto caminho pela vida com a pose de mulher bem-resolvida, pedindo um socorro baixinho. Acho que você nunca notou essa minha anatomia extremamente frágil e melancólica. Eu constantemente peço socorro, – aqui respondo ao meu bom amigo – um socorro não se de quê, não sei de quem, não sei de onde. Eu tenho um desassossego na alma que me engole inteira, sem pestanejar.

Eu sou uma viciada em solidão. Meu estar só é complexo, cheio de auto estima e autossuficiência; se avançar o sinal, eu mordo; se invadir meu território, eu arranco um pedaço. O meu silêncio tem sido proposital, um mecanismo de autodefesa. Faculdade, trabalho, casa, família, mil e um problemas e tudo isso é revertido em auto-proteção. O tempo me é tomado de forma que fique fácil fingir que nada aconteceu, que nada doeu. Que a solidão não me afeta e que sou feliz assim. Sem confrontos, sem me sentir perdida de mim. É um esforço tremendo não observar a vida e em um processo de expansão de alma e consciência eu me tornar a solidão, o silêncio, a autocomiseração, a auto-condenação, as frustrações de todos que passam aos meus olhos. Ao voltar a tomar consciência de mim, tudo grita e eu quase ensurdeço. Um minuto de distração me pode ser fatal. 

Nesse processo, estou aqui, sentindo uma tristeza pestilenta por redescobrir-me em um mundo onde você não existe. Aterrorizo-me ao pensar que desistir foi uma adaga de duplo corte. Não tenho coragem de retornar à minha realidade de mundo onde eu tenho você me apontando saídas-de-emergência de mim mesma, assim como, me condeno pelo ato miserável de me manter em silêncio por medo de cada linha se transformar em uma estrada que me ligue de novo a você de forma irremediável. Prefiro aceitar o fim definitivo. Ainda te amo, mas prefiro cuidar de mim mesmo que meus pesadelos sejam sobre a construção de sua vida onde eu não possa te amar apesar de todos os tropeços em seus próprios pés. Fraquejo com tanta dualidade de sentimentos, resisto em nome de um bem maior. 

Nunca haverá outra como você. Tanto porque somos seres ímpares quanto pelo fato de até aqui, eu ter amado unica e exclusivamente você de forma a não me interessar pelos outros sete bilhões de seres neste mundo. Parece exagero, mas meu sentimento, assim como minha escrita, é enérgico e intenso. Escrevo aqui para desafogar-me da vontade quase infantil de me arrastar até você. Não existe infortúnio maior quando casa é um lugar onde você não pode mais entrar. Onde você não deve mais se dirigir. E o mundo acaba sendo um local amedrontador de silêncios e cinzas quando você é o meu velho lugar. Não cabemos mais em uma estória cheia de nós e linhas curvilíneas. Não é de bom grado, condeno-me e sinto a necessidade de pedir-lhe desculpas por ser tão fraca a ponto de calar-me sem nenhuma força para te alcançar.

Minha casa agora é outra, abro as portas e janelas para que eu seja invadida e reinventada por novas, surpreendentes e encantadoras estórias onde meu o meu papel é o principal. Um dia, temo que em breve, eu fecho as portas da memória para as lembranças formadas de nós. Nesse nosso caminho tortuoso eu sofri demais e não sei entregar-me às tristezas dos julhos e janeiros como me entreguei a ti. Não há quem te salve dos invernos que você mesma inventou. Não há quem pule todas as muralhas de proteção que você constrói a sua volta. Não há quem insista, dia após dia, ano após ano em convencer-lhe a deixar-se ser amada. Foi lindo, foi exaustivo. Foi o amor da minha vida, sempre será. Mas para o próximo ano, eu peço que cada vez menos, eu tenha esses sopros repentinos no coração que me obriguem a escrever explicando as faltas, a saudade, a distância. Peço que se não esquecer, eu pelo menos, esqueça de me lembrar que a única coisa que eu te pedia era que: please, you.

De nada pelo caos

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