Mais um clichê sem produção

Trilha sonora.

O corpo insistiu em acordar preguiçoso. Só mais cinco minutinhos na cama se estendeu pelo restante da manhã e começo da tarde. É quase o fim de outro ano, pensei. Um frio percorre minha espinha quando penso sobre finais de anos e não consigo me lembrar de algum em que você não estivesse lá, do outro lado da mesa – às vezes a mesa parecia um oceano pacífico nos separando – me olhando ou rindo essa sua risada que ainda teima em ser música para meus ouvidos. Assusta como a minha vida se dividiu em antes e depois de você. Assusta sua imagem em minhas retrospectivas mais doces e também nas mais amargas. Novidade, não é? Mas eu nunca te contei desse meu medo de te amar, mesmo que isso seja algo fácil e você continue sendo a pessoa por quem eu tenha total tendência de me apaixonar mesmo que os anos passem e eu teime em me despedir trocentas vezes.

Eu pego tudo e transformo em paranoia. O bom nunca é bom o suficiente. Você desencadeia esses tipos de emoções exageradas dentro de mim e o problema nunca foi essa caralhada de sentimento. O problema é eu lidando com tudo isso, sabe? Encaixar, medir, descrever. Resolver que esse fica bem aqui e que a medida certa é um pouco a mais. Necessidade boba de quem não leva o mínimo jeito para classificar sentimentos. E aí eu quebro, passo da conta e vira uma bagunça por dentro e por fora. Não sei explicar de maneira didática e vai levar um texto para eu conseguir, mas descobri a vaguidão desses sentimentos todos: suas variações de humor, temperatura, lugar, pressão e do próprio sentimento em si. Encontrei o ‘x’ da questão e, meu bem, foi um medo gigante que senti me rondando.

Tudo tão complexo que a cabeça divaga, culpa de minhas tendências filosóficas.
Tudo tão complexo, mas eu sempre gostei de dores longas, estórias complexas e gente velha. Chega a ser bonito.

E falando em estória complexa, a nossa deixou de ser um romance e se transformou foi em uma novela. Dessas que, se exibidas no canal correto, o mundo inteiro pararia para observar. A novela em que cada vez que alguém vai embora é sua ausência que fica. Toda despedida vira parte do que foi nosso em outrora. Eu nunca superei o fato de ter colocado tanto da minha felicidade em você existindo ao meu alcance e não conseguir tirá-la de suas mãos. Mas aprendi a me transformar em personagem super resolvida nessa história em que, vítima de minha própria passionalidade, me fiz mocinha. Aprendi a lidar com a saudade e a centena dos adeus que ficaram pelos caminhos. Meus, seus, dos outros. Ah, esses outros que não se fizeram inesquecíveis! Eles nunca conseguiram significar o que você significou. E, ah, você que de alguma maneira ainda é um pouco minha! Sempre seremos um pouco – ou muito- uma da outra porque muitas foram as músicas, filmes e cumplicidade que (ainda) dividimos. Lamento por você não estar aqui nesses dias preguiçosos de casa vazia. Sem dúvidas, você preencheria minha cama e faríamos delicado jus às nossas trepadas imaginárias. Não me olhe com olhos de censura, o que seria de nós sem esse tesão bilateral platônico que cultivamos desde doismilebolinha?

Deixando a coerência de lado, esse texto era pra dizer muita coisa desse meu jeito reflexivo de lembrar de você com saudade. Aquela sensação de perda eu deixei para trás. Levou muito tempo, mas entendi que não há motivos para desculpas, para fugir do meu diário, de pessoas e bares que me remetam à você. Eu vou querer sempre te encontrar nas páginas desses diários, nesses bares, nessas pessoas, no tesão platônico das minhas noites sozinha. Você sempre vai ser minha pessoa preferida. A mais incrível que conheci. E eu vou continuar te amando porque foi assim que você sempre existiu para mim. De outra forma, não faz sentido. E a cada vez que o mundo se torna ilógico, fica louco e sem rumo é para seus braços que eu quero voltar. É só mais um texto sem moral para dizer que quando eu olho para a vitrine da vida e reflito sobre saudade, eu penso em você e me importo mais com o que está por vir do que com o que já foi.E nem precisa que seja extraordinário para que valha mais. Que em cada uma de suas vindas eu estarei aqui para cuidar da gente enquanto você estiver por perto. E que você venha logo e fique um pouco mais do que da última vez. Porque ficando assim, está bom. E eu jamais te pediria para vir se não soubesse que é aqui que você quer estar.
Nem que seja um pouquinho.

Mais um clichê sem produção

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