Acaba, mas fica

Primeiro achei que eu havia aprendido a lidar com a saudade. Depois achei que o amor, com o passar do tempo, se torna isso de não saber se falar sobre… Natural. Mas de um jeito ou de outro, ao falar de amor, eu sempre falaria sobre você. Mas falar de você tem feito menos sentido do que costumava fazer. Encerro assim esse capítulo? Então é assim o esquecimento?

Talvez eu tenha ido deixando para trás a sensação de perda que nossos desencontros sempre me trouxeram. A saudade ainda existe, ainda bate, só não me rasga ao meio. Não tem mais dor e também não tem mais o desejo incontrolável de te arrastar de volta para minha vida sempre que você vaga longe demais dela. A promessa de amor eterno? Essa continua. Levo, sem lágrimas e com muitos sorrisos largos, as lembranças das noites incríveis porque assim inesquecível. Mas o para sempre agora é longe como o caminho de volta também. Mas nas saudades mais bonitas que sinto e sentirei, ainda serei sua. Porque muitas foram as canções, a cumplicidade e o querer mútuo que nos dedicamos.

Depois de me refazer mil vezes de uma dor costumeira, acho que me encontrei ainda lúcida e uma vontade descomunal de interromper o processo de transformar qualquer despedida na nossa. Você não é o que vai, você é o que sempre fica. Eu é que já não tenho mais tanta certeza. Talvez ela tenha morrido junto com a nossa última conversa, já era hora de encerrar capítulos. A vontade, o amor, o querer estar perto ainda existe. Ainda existe você em qualquer lugar que eu esteja, sejam eles externos ou internos. Disso eu não fujo e nem abro mão. Por mais dolorido que tenha sido, você foi meu primeiro e melhor amor. E continuará habitando dentro de mim da forma como sempre existiu. Você é linda. A mulher mais linda do mundo, meu número. De outro jeito não faz sentido.

Durante muito tempo eu temi a distância e pessoas que, eventualmente, entraram em nossas vidas com promessas de um amor novo te levassem para longe de mim, tão longe que eu não seria capaz de te alcançar mais e pedir para ficar. Parece piada quando percebo que  fui eu quem acabei me levando para longe demais. Longe porque eu precisei não precisar mais de você para me refazer e você também não precisou mais de mim. Longe porque meus pés precisavam de outro destino que não você. Longe porque esses eventuais amores chegaram pedindo uma chance para significar o que você significou. E não era justo. Nem comigo, nem com eles e nem com o peso do que isso era para você. A promessa de amor eterno não pode impedir que eu siga por caminhos onde você não exista. Talvez, eu já não tema essa vida sem você.

Você foi tanto que não há meio de virar nada. E por isso, há uma coisa que talvez nunca mude e você pode ou não compreender o valor gigantesco disso e talvez sorria, talvez não entenda o que tenho dito porque cai em contradição, mas é bonito saber e sentir que, por mais que hoje eu entenda que uma relação que se anunciou como infindável chegue, irremediavelmente ao fim, o amor permanece. O-meu-amor-por-você é seu. Não há como mudar. Quando eu sinto medo de algo, dessas coisas meio assustadoras que a vida põe na nossa frente, é no encaixe do seu abraço que eu gostaria de estar. Isso não muda. Você ainda me traz a sensação de paz. Você ainda é a única pessoa a quem mostro minhas rachaduras internas, meus machucados subjetivos e confio que vai os tocar sem abrir outras feridas. Mas agora já não há um espaço, mínimo que seja, para nos enfiarmos e esperarmos que o amanhã chegue com a possibilidade de existirmos dia-a-dia-lado-a-lado.

O amor é tão confuso quanto nós. Mas eu só sorrio de volta quando ele é a lembrança de você.

Acaba, mas fica

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